sábado, 18 de outubro de 2008

entrelinha

Uau, já faz um tempão que eu não colo aqui e dou inicio ao processamento dos fatos...Sim, processamento, pq o que eu escrevo pode até não fazer sentido pra vc, mas faz pra mim. A idéia desse blog é digestão e entendimento, mais do que os fatos em si. E andei meio a esmo sem querer muito entender ou processar nada. Queria apenas viver e vivendo, ir transformando os pedacinhos de mim sem me preocupar muito com o destino que tais mudanças provocariam. E pra ser sincero (já que me acompanhas tenho que ceder à sinceridade), não sei o que mudou. Não sei se mudei e também não sei se tenho algo além dos fatos pra te contar...
A vida universitária, como me é de costume, é um atropelamento da vida. A questão acadêmica invade a vida privada e a inquietação não deixa meus pensamentos tão cedo. Muitas vezes não tenho idéia do que fazer com tanto pensamento e acabo por abrir mão daquilo que não sei lidar e me abrigo em algumas “certezas”. Dessa vez, estou tentando ser diferente e, ao fazê-lo tenho momentos de pura glória e libertação, de desprendimento. Mas nos intervalos (que costumam ser mais longos) o que tenho é uma grande sensação de estafa; de não saber, de não entender, de incapacidade. Não, eu não estou menosprezando ou me colocando em posição de inferioridade, estou apenas dizendo que em certos momentos a angústia toma conta com certa melancolia. Mas é essa mesma angustia e essa mesma melancolia que me impulsionam a ir além...
OU seja, faz tudo parte do processo...
E porque escrevo tudo isso agora? Escrevo pra me justificar. Você que tão humildemente me acompanha nessa viagem foi impedido durante certo tempo de invadir meus pensamentos, minhas idéias, minhas vivencias. E te conto que durante todos esse dias pensava sempre em vir aqui te dizer baixinho, quase ao pé do ouvido, o que vem guiando meus pensamentos, mas nunca me sentia pronto. Não sabia o assunto que queria tratar com você, não sabia como pegar em sua mão e te trazer pro meu lado. E agora que estás aqui ainda me sinto um tanto perdido.
Não sei se quero discutir arquitetura, tenho lido os situacionistas, tenho pensado na congestão, na liberdade, na flexibilidade e ao mesmo tempo, nas infra-estruturas, nos entre espaços, nos interstícios...
Não sei como te dizer de Amstedam...de ver o trabalho lindo do WEST 8 em Borneo, dos impressionantes espaços gerados pelos “cubos famintos” do MVRDV, de ver o baixio do NL, ir ao escritório do NL e me sentir em contato com uma mentalidade outra de pensar e fazer arquitetura, de ver a “maquetinha” do Basket Bar, da vontade intensa de cutucar o professor com currículo embaixo do braço e pedir uma vaguinha...
Fico confuso ao te contar sobre Nuenem (uma vilinha ao lado de Eindhoven onde van Gogh morou por 2 anos), sobre Eschede (cidade ao Norte, no limite c a Alemanha), sobre o cano do banheiro que resolveu inverter sua função e vomitar água ao invés de absorvê-la...
Como não sei bem como imprimir em palavras aquilo que ainda não entendo, estendo-te agora minha outra mão e permito que olhe nos meus olhos. Os meus olhos te guiarão, para além das palavras, vão imprimir em imagens aquilo que eu não sei dizer.O que permanecer obscuro, ficará na entrelinha. Confio na entrelinha e confio na sensibilidade de quem olha em meus olhos. Talvez você até consiga ir além de mim e ir preenchendo os interstícios dos meus pensamentos. Se vc ficar perdido no entre, não se acanhe. Vc estará comigo e juntos tentaremos decifrar o que eu também não entendo...



Amsterdam:

O belíssimo trabalho do WEST 8 ... (acima e abaixo)
abaixo: as "caixas famintas" do MVRDV...


A8: o baixio do NL...


Escritório NL:


Nuenem:



Enschede:


















quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Haarlem

Prometi que ia contar do fim de semana, certo?
Ok, vamos lá.

O fim de semana começou na sexta com a festinha do Espanhol. Festinha não, festão! A casa era super bacana num lugar perto do centro. Tinha MTA gente. Pra variar, MTO espanhol! Juro, devia ter uns 20! Depois chegou uma leva de italianos, havia alguns poucos holandeses (aliás, holandês em festa é coisa rara. Apesar de estar na Holanda, tenho conhecido pouquíssimos holandeses!), alguns portugas e, claro, nós 3, os brasileiros.
Depois de uma série de conversas despretensiosas regradas a um tanto de vinho em um climinha frio, porém agradável, fomos embora. Cada um pro seu canto. Mas, como bom cavalheiros que somos, Bruno e eu levamos a Marina até o meio do caminho. Sim, até o meio. O frio estava apertando e a Má mora praticamente em outra cidade, oras!.

Já estava tarde, passava das 2 da manhã e tínhamos que ir à Heerlem no sábado cedinho.
:s

E lá estávamos nós, madrugando em pleno sabadão! Havíamos combinado um encontro as 8:00 da madrugada no parque em frente à minha casa. Nós 3 e um casal de Praga (a Zuzka e o Phillip). O plano era ir à uma posição MTO BACANA cujo tema era INSTANT URBANISM! Só gente bacana exposta, dentre eles: Situacionistas e Archigram!!!!!
O dia estava frio. Aliás, frio é pouco. Pira nessa névoa que rolava no parque em frente de casa:
É pois é, negão. Guenta a friaca? Nós agüentamos!

Entramos no carro e fomos em direção à Haarlem, ao norte da Holanda, pertinho de Amsterdam (sim, fomos de carro.O Phillip veio com o carro dele de Praga e no fim foi BEM mais barato!!!!!). No caminho aquele território plano: vaquinhas, cavalinhos, cabritinhos, moinhos, água, MTA ÁGUA, e quase nenhum porco. Achei q ia ver porco as pencas! Mas não, o que tenho visto as pencas são coelhos! Coelhos e pássaros.

;P
Quase duas horas depois de sairmos de Eindhoven, chegamos a Haarlem. A cidade é bem charmosinha, interessante e com história. É engraçado ver nessa foto as diversas camadas (os famosos “puxadinhos”) que a igreja foi ganhando. Talvez por conta da complexidade que o programa , com o tempo, acabou adquirindo. Talvez...

Certo mesmo é que havíamos chegado a Haarlem e estávamos ansiosos com a exposição. Tivemos um probleminha pra achar vaga pro carro e decidimos nos separar. O Phillip foi procurar um lugar pra estacionar enquanto o resto de nós ia procurar um mapa da cidade e localizar o museu em que a exposição se encontrara. Ao chegarmos ao centro de informação turística uma surpresa engraçada:


Quem reparou direitinho na composição das letras que formam os nomes Haarlem e Heerlem?


Se você reparou, parabéns! És uma pessoa atenta. Coisa que eu não sou e, não sendo, já viu né? Fomos parar na cidade errada! Ai carai!
A sorte é que Zuzka e Phillip tinham preparado todo um roteiro além do museu. Aliás, roteiro fantástico! Fomos à praia (sim tava frio, mas ainda assim, botei meus pezinhos na água gelada do mar do Norte), fomos a outra micro cidade em que, por coincidência, rolava uma peça de rua (provavelmente uma fábula nacional ou, de fato, sobre a historia holandesa pq os caras estavam usando os tamancos típicos).
Acima, a Zuzka, a Má e eu no mar. Abaixo o típico tamanco holandês.


Agora, o mais impressionante mesmo foi chegar ao limite do canal que conecta Amsterdam ao mar. Um lugar magnífico, fantástico e bizarro ao mesmo tempo. A ordem e o plano da modernidade imperam naquele território altamente tecnológico. Navios e cruzeiros gigantescos! O ruído longínquo e intenso de indústria e ferro retorcidos. Cheiro salgado do mar, brisa no rosto, horizonte distante.
Um profundo silencio interno tomou-me pelo braço. Fiquei um tempão pensando, silenciado. Não sei em que pensava. Nem sei se de fato pensava. Mas o contato com o mar, como me é de costume, fez de mim um ser em transe. Nem só aqui nem só ali. Em lugar algum e em todos ao mesmo tempo. Complexo e confuso? Talvez; mas era assim que me sentia.

Pra finalizar um passeio pela artificialidade. Uma pista de esqui, uma parede de alpinismo e uma escultura circular de concreto em um morro. Tudo artificial.Tudo projetado e construído pelo homem.Inclusive o morro.Quer mais Holanda do que isso? Só faltaram as tulipas e os moinhos...


Voltamos pra Eindhoven com um sorriso escancarado. Rindo do dia intensamente prazeroso. Rindo da confusão atrapalhada. Rindo, sobretudo, com a doçura de quem experimentou o gosto da vida, o gosto do arbitrário e do desconhecido.

Ao chegar em Eindhoven ainda fomos em mais uma festinha. Mais uma vez, de um espanhol! Festinha numa casa incrível. Mas o som era MTO RUIM. Fiquei pouco. Tava cansado e desanimado com aquele som. No domingão, almoçamos na casa da marina e assistimos a um filminho dos irmãos Cohen: “The Big Lebowski

Filmão! Recomendo!
=p