segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A primeira parte

Escrever sempre foi um recurso muito precioso pra mim. Um momento em que me desligava do mundo e, faminto por autofagia, processava cada momento, cada acontecimento que fazia da minha existência uma linha tênue entre o que eu sou, o que era e o que viria a ser. Hoje, escrever tornou-se uma necessidade. Relatar aos meus amigos, à minha família, esse momentinho de vida do outro lado do Oceano, em outro lado do tempo, é quase relatar outra existência. Uma existência cujas raízes ficaram no Brasil. Minhas referências, minhas músicas, minhas coisinhas. Só carreguei comigo esse pedaço de matéria em forma de Felipe e as lembranças, os sentimentos. As não matérias que me dão forma.


O que começo é um relatório de estória iniciada. Na verdade, não sei se gosto dessa palavra relatório. Soa meio burocrático. Talvez interface seja mais interessante. Uma interface entre os fatos e impressões. Uma maneira de processar c mais clareza aquilo que eu ainda não sei identificar. Aquilo a que chamamos de presente.
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Esse presente vai começar num passado. Num passado recente, é verdade. Cheguei à Europa no sábado, 23 de agosto de 2008. Cheguei sem de fato ter chegado. Meu corpo e minha bagagem já estavam aqui. A minha cabeça ficou na ponte aérea. Tanto que esqueci onde tinha botado as chaves das malas e, já logo de cara, minha recepção holandesa foi desastrosa. Um policial Holandês estourou o zíper da minha american tourister pra revista-la. Fiquei meio atônito. Afinal, tenho tanto carinho por aquelas malas...




Ele ainda soltou um:
_They say I´m good! (eles dizem que eu sou bom!)
Uma tentativa engraçada de me impressionar. A vontade que dava de dizer era: “amigo, eu moro no Brasil, a gte não sabe se tem mais medo do ladrão ou da policia! Vai ver tropa de elite, vai!” (aliás, esse filme ta chegando aqui na Europa agora!)


Peguei o trem de Amsterdã pra Antuérpia meio q rindo dessa parada do policial. No meio do caminho lembrei q havia botado minhas chaves na mochila, num bolsinho bem seguro, tão seguro que acabei me esquecendo que ele existia...
No caminho, tentei insistentemente falar c a Lu. Só consegui qdo cheguei à Bélgica. Ela já estava na estação, me esperando. Aliás, que estação. Um pé direito gigantesco, trens passando em três cotas diferentes, bem bacana! A casinha dos van Merle é mto charmosinha. À 5 minutos (à pé) da estação. Tudo mto aconchegante e de bom gosto. Tb, o que esperar de uma “tilista” e um artista?

O Lex estava trabalhando e passei um tempão conversando c a Lu. Foi mto bom e, ao mesmo tempo, estranho. A Lu casada, c casinha e tudo mais.Construindo seu caminho nessa outra terra...
No dia seguinte demos um rolê pela cidade. Primeiro a Lu e eu. Caminhamos pelo centro, por algumas praças. A Antuérpia é uma cidade bem interessante, cheia de descobertas que vão acontecendo pelo caminho. Umas praçinhas no miolo de quadra, uns parquinhos de criança entre lotes, uma cidade cheia de interesse coletivo. Gostei.
À tarde o Lex nos acompanhou. Pegamos o carro e andamos pela cidade inteira. Depois fomos a um bar bacana numa praça central e tomamos uma cerveja c outros brasileiros e holandeses q vivem na Bélgica. Incrível a maneira como se usa a cidade na Europa. Incrível como esse continente é cheio de gente “desterrada”. Gente que decide sair do seu país de origem . É preciso mta coragem pra abandonar suas referências e criar raízes em outro lugar...
Na segunda de manhã voltei pra Holanda. Agora pra ficar. Tive q trocar de trem em Dordrecht (acho que é assim q se escreve) e confuso c a língua e c as placas, perdi o primeiro trem. Mas deu td certo. Cheguei em Eindhoven e liguei pro Hans. Um amigo Holandês que há 3 anos atrás (MEU DEUS, COMO O TEMPO PASSA!) foi pro Mackenzie estudar arquitetura. O caminho contrário ao que eu estou fazendo agora. Foi mto bom chegar aqui e ter caras conhecidas pra me recepcionar.
O Hans foi mto gente boa, me ajudou c as malas e tals. Fomos até a casa do irmão dele, o Marco (a pronuncia correta é Marrco, com aquele r de quem vai cuspir, sabe?), que mora numa ruazinha bacana no centro de Eindhoven (ops, quase cometi uma gafe, ia falar q era no centro de SP, será q eu sinto falta dessa "cidadezinha?"). Almoçamos pão c queijo e café. Pois é, esse é o típico almoço holandês. Ou então, batata frita c maionese. Ou Hamburger. Ou croquete. Ou td isso junto numa coisa só!
Depois, o Hans e eu fomos à Vestide (tipo uma imobiliária) pra assinar contrato e pegar as minhas chaves. Estava mto ansioso pra conhecer minha casinha, meu quarto, desfazer as malas e apelidar esse pedacinho de Eindhoven de “lar doce lar”. Ok. Contrato assinado por 6 meses, sem direito a reivindicação. A não ser que a facul escreva uma carta autorizando o cancelamento do contrato...
Mto bem, cheguei à Swammerdamstraat (minha rua). Um Lugarzinho bacana, bem arborizado, c ciclovia que liga até o centro. Pertinho do Phillips Stadium, com um parque cheio de coelhos do outro lado da rua. Td bem Moderno. Só faltaram os pilotis pra eu me sentir em Brasilia...rs Subimos os três andares de escada. Olhei o numero da porta e, ansioso, tentei abri-la. Tentei tdas as 6 chaves, de vários jeitos, mas não conseguia. Tava mto ansioso pra conhecer logo esse novo território. Finalmente, depois de umas três tentativas c cada chave, consegui abrir. Foi uma tremenda decepção. O apê fedia. Estava imundo. Abri a porta do meu quarto e fiquei um pouco mais feliz. Ele é pequenino mas é bacana!

A cozinha estava cheia de sacolas de feira c frutas e verduras estragadas. A sala cheia de sacolas e c uma panelinha de arroz japonês ligada na tomada. O arroz lá dentro estava queimado e podre. Foi horrível. Minha vontade era de dar meia volta e pedir arrego. Estava td tão sujo que nem sabia por onde começar. Deixei minhas malas no quarto e sai para conhecer a faculdade c o Hans. Resolvi adiar o enfrentamento desse novo “problema” e criar novas expectativas a respeito da Universidade, do curso, de uma vivência bacana num país legal.





A faculdade é mesmo impressionante. A estrutura oferecida aos alunos é sem noção! O laboratório de maquetes – logo eu q não sou mto chegado à maquete – me deixou babando. Dava pra vê-lo através do átrio que percorre todos os andares do edifício. Em alguns momentos esse átrio permite ao olhar o conhecimento dos outros pavimentos. No saguão de acesso, o que o átrio revela é o andar abaixo, cheio de ferramentas, materiais, mesas, etc pra maquetar! Fiquei morrendo de vontade de descer, cheio de idéias na cabeça, com comichões para projeto! Rodei quase todo o prédio e fiquei impressionado. Voltei pra casa sozinho na esperança de encontrar ou os outros brasileiros pelo caminho, ou alguém em casa pra conversar, socializar e discutir como ajeitar aquela incrível bagunça à Swammerdamstraat, 60. Não encontrei ninguém. Dormi pensando se eu estava mesmo fazendo a coisa certa.

Foi nessa hora que o passado se tornou presente. Achei essa descoberta um tanto valiosa. Descobri que tenho um certo problema com o presente. O passado e o futuro me assombram e me presenteiam. Alimentam a minha existência ao mesmo tempo que embriagam meus reflexos, minhas respostas aos estímulos do presente. Passei essa noite chorando e pensando muito.
Hoje consigo ver c mais clareza certas coisas que vivi naquele momento. Foi um grande misto de ausência, de profunda solidão. Ao mesmo tempo, nunca me senti tão presente em mim mesmo. Entrei sem pedir licença. Invadi bruscamente todo o meu eu imaterial. Tudo aquilo que não existe e ainda assim, me define. Meus medos, inseguranças, anseios, expectativas, decepções. Saudade profunda da família, dos amigos, do meu canto. Saudade profunda da imagem que tinha na cabeça do que seria essa viagem. Saudade daquilo q não vivi, que construí cheio de expectativas e que agora, ao tornar-se realidade, vinha com uma boa dose do gosto insosso, às vezes amargo, do real.
Os dois dias que seguiram foram marcados por desencontros. Encontrava e desencontrava o Bruno e a Marina. Todos sem celular e sem internet, ficava meio difícil. Na quarta-feira comprei minha bike numa loja grande que tem bikes usadas. A vida de pedestre aqui em Eindhoven não é mto fácil. Claro, o país inteiro é plano, os motoristas respeitam e dão preferência ao pedestre e tudo mais. Mas não há padaria ali na esquina. Não tem a farmácia do seu Zé do outro lado da rua. Na verdade, tudo fica numa rua só em algum canto do seu bairro ou do centro. É uma cidade toda planejada. É um país todo planejado. Ao mesmo tempo fascinante e entediante.
Na quinta-feira...Bom, na quinta-feira eu não dormi em casa. No dia anterior, por conta da zona que estava aqui em casa, veio uma senhorinha contratada pela Vestide (lembra da Vestide? A imobiliária! Pois é...) pra dar uma ajeitada na bagunça. Peguei todos aqueles sacos c vegetais, a panela queimada e estragada e botei tudo na varanda. A senhorinha não falava inglês, só holandês. Foi engraçado! A gte se entendeu mais pelos gestos do que pela língua. Normalmente, esse serviço seria pago, mas como eu cheguei e a casa estava vazia e imunda, o serviço foi “grátis”.
Saí de casa por volta das 11 da manhã e deixei-a sozinha em casa. Eu tinha uma reunião com Angie Voorstemans (algo do tipo) pra conversarmos sobre o resident permit – ou seja, como se não bastasse o visto, ainda preciso de permissão do prefeito pra morar em Eindhoven. Descobri que por ser latino, SUDAKA ("apelido" dado pelos europeus aos “cidadãos de 2 classe”, os latinos) tenho q fazer teste de tuberculose. Tudo muito esquisito, a gte se sente meio indesejado com tanta burocracia. Mas, mais uma vez, era só o gosto do real dando o tom...
Quando voltei , a senhorinha já havia saído. Minha casa não estava mto limpa. O chão continuava pegajoso. A janela continuava engordurada – há uma crosta, uma textura na janela da cozinha, de modo que ela não fica 100% transparente. Na terça –feira, eu havia metido a mão na massa sem muito sucesso. Mesmo c a “segunda de mão” da especialista, a parada continuava ali. O banheiro continuava meio fedido. Estava na hora de agir c mais voracidade sobre o assunto...
Ah, a varanda estava limpa. Todas as sacolas cheias de garrafas vazias, maços de cigarro, os vegetais podres e a panelinha de arroz oriental, estavam no lixo. Fiquei aliviado por ter me livrado da sujeira. A casa ainda não estava 100% limpa, mas já estava pronta pra receber os novos moradores. Coisa que eu ansiava intensamente. Conhecer os caras com quem iria dividir meu ape.
Desculpe ficar indo e voltando no tempo. Comecei falando de quinta-feira, pq quinta-feira, dia 28 de agosto, foi um dia q me marcou profundamente. Mas ai, me liguei que eu não podia te contar de quinta feira, sem antes contar esses detalhes da limpeza da casa. Esses detalhes serão cruciais para o que vem a seguir.


Falando de quinta-feira...


Fui a Vestide pra saber dos caras que iriam morar comigo, afinal, as aulas estavam pra começar e ninguém havia chegado. Informaram-me q eu iria dividir o banheiro e a cozinha c um turco e c um indiano. Segundo a mina da vestide, o indiano já morava na Swammerdamstraat há 7 meses. Nessa hora eu gelei. Tremi inteiro! E se a panelinha de arroz fosse do bendito indiano? Não, não poderia ser...no meio das caixas cheias de garrafas de bebida, eu vi um nome chinês. Só podia ser um chinês o dono daquele panelinha. Tinha de ser!!
Passei o resto do dia na casa do Bruno. A casa do Bruno tornou-se meio que nosso ponto de encontro. É pertinho da minha casa, era perto do hotel em q a Marina estava hospedada – a Vestide cometeu um erro c as datas e acabou por pagar quase 2 semanas de hotel p ela – e os caras q dividem o apê com ele são mto gente boa! Uma chinesinha fofa e um espanhol engraçado. Na verdade ele não é espanhol, é basco. Pra quem não sabe, o país Basco fica entre a Espanha e a França. Legalmente, o país não existe. Uma parte pertence à Espanha, outra à França. É uma questão polêmica q envolve questões econômicas, culturais, etc...
Bom, à noite, a Marina, o Bruno, o Gonçalo (um português mto gte boa que mora c a Marina) e eu viemos pra casa. Era tipo umas 23:00 hs.No que eu abri a porta, dei de cara com um homem branco, com olhos bem vermelhos, descabelado, barba por fazer. Ele estava descalço, unhas do pé pretas, dentes pretos, orelhas grandes e meio salientes, cabelo bem escuro. Eu levei um puta susto. Alias, todo mundo levou. A Marina entrou em crise de riso e foi pra sala pra tentar disfarçar.
O cara disse que era indiano, que morava aqui já há 7 meses e que estava sentindo falta das coisas dele. Eu fiquei completamente perdido, arrasado, assustado. Eu não sabia o que dizer, só queria sair dali o mais rápido possível. Disse que não sabia de nada, que eu cheguei em casa e encontrei tudo assim. Estava em pânico. Com medo do cara, com um puta arrependimento por ter botado as coisas do cara na varanda – mas poxa, eu não sabia que havia alguém morando lá! Se eu soubesse, jamais teria feito isso!!!!!!
O indiano parecia meio descontrolado. Parecia que ele havia cheirado uma carreira inteira de cocaína. Estava inquieto, nervoso. Deixamos o indiano sozinho e voltamos a casa do Bruno. O assunto “indiano” não saia da cabeça de ninguém. Naquele momento, tudo o que queria era esquecer esse episódio. Queria que ele fosse mentira, uma peça, um trote. O tempo passava e td que eu queria era juntar minha trouxinha e voltar pro Brasil.
Dormi na casa do Bruno. Sem coragem pra enfrentar a realidade. No dia seguinte fui à Vestide pra tentar mudar de casa, afinal, eu não ia conseguir conviver c essa culpa. Eu menti pro cara! E outra, no momento em que eu o vi, saquei na hora o pq que a casa estava daquele jeito. A casa e o indiano tinham o mesmo aspecto. Eu definitivamente não queria morar mais naquele lugar. Chegando à Vestide, entrei na net e comecei a escrever um email pra Carol Lunetta (uma amiga do Mackenzie q veio pra Eindhoven no ano passado) contando do ocorrido e fazendo perguntas sobre a possibilidade de mudança de casa. No mesmo segundo em que eu apertei enviar, apareceu o indiano. Ele também havia ido à Vestide. Ele também iria reclamar. Mas o motivo dele era muito mais justo que o meu.
Conversando com o indiano, descobri que ele era muito gente boa. É porquinho, mas é mto gente boa. Falei a verdade. Disse o estado em que eu tinha encontrado a casa e o que eu tinha feito c as coisas que encontrei pelo caminho. Pedi desculpas pelo desentendido e afirmei que só coloquei as coisas na varanda – o que é bem verdade! Pedi mais desculpas e disse que jamais faria uma coisa dessas se soubesse que alguém morava aqui. Ainda me sentia mto mal e com vontade de ir embora. Não conseguia me imaginar dividindo a mesma cozinha, o mesmo banheiro c alguém tão sujo.
Na real, a situação até hoje não mudou. Continuo morando c o indiano porquinho que fuma pra caramba! Fuma até quando vai ao banheiro! Sempre limpo o vaso e o chão antes de usá-lo. É foda, não é fácil! Mas minha perspectiva sobre essa situação mudou. Não vou abrir mão dessa vivencia por causa de uns perrengues. No sábado, dia 30 de agosto, fomos à Den Haag. A Marina, o Bruno, o Ebai (o basco) e eu. Essa viagem foi muito produtiva pra mim. Vi a obra do Koolhaas, passei um tempo na praia tomando Sol. Isso td me ajudou a ter uma outra perspectiva sobre essa vivencia num país legal sem fantasiá-la. Viver com o gosto do insosso. Sabendo que a vida é isso. Uma boa dose de amargura, uma boa dose doce. No fim, não tem gosto de nada, e tem gosto de tudo.
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Ainda tenho mais coisa pra contar. Tenho que te falar sobre a universidade, sobre a burocracia parte II, sobre a aula, sobre a ida ontem dia 6 de setembro à Liége, na Bélgica com o Hans, e o trio brazuca (sim, marina, bruno e eu!)! Pois é, escrevo hoje, dia 7 de setembro. Dia da independência do Brasil. Dia em que o casal van Merle completa 1 ano de casório. Me lembro como se fosse ontem. Saudade do Brasil. Saudade da Dea – lembrando do casório, lembrei dela chorandinho ao meu lado. Saudade da minha família, dos amigos. Saudade do Fernandinho. Aquele pedacinho de gente que me conquistou de uma forma que eu nem sei dizer...




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Bem, o 7 de setembro já passou. Já é ontem. Engraçado isso. Eu fico aqui escrevendo em tempos diversos e sei lá eu quando você vai me ler. Não vou ficar entrando muito nessa nóia de “espaço tempo”. Vou me concentrar em contar as coisas que ficaram faltando, afinal, esse texto já está enorme e ainda há coisa pra contar.
Vou dividir em três assuntos pra ficar mais fácil: a universidade, Den Haag e Liége.


A Universidade:

Bem, eu já disse que a infra da faculdade é incrível. O que eu não disse é que a burocracia também é! Ainda no Brasil, me inscrevi pra 4 matérias. Master Project (algo como um TCC, TFG) , Building and Planning for the third world (construção e planejamento para o terceiro mundo), Handrawing (aula de desenho) e Discovering the Netherlands (descobrindo a Holanda). Quando cheguei aqui, descobri que eu não poderia fazer o Master Project. Que só havia vagas para o International Design Studio in Urban Spaces. Ok. Me inscrevi nessa matéria e fui tentando entrar no Multi Project (um curso bem bacana em q cursaram todos os outros brasileiros que pra cá vieram).
O mais impressionante é que, com exceção do Handrawing, todas as matérias estão sobrepostas no mesmo dia e horário! Não é ótimo? Ah, e tirado o Internacional (...) todas as matérias começam em Outubro. Juro, quando eu descobri isso, todos os alicerces que sustentavam essa viagem caíram por terra. Mais uma vez, a vontade de abandonar essa experiência tomou conta. Muita gente está se sacrificando pra que essa viagem aconteça. Muita gente lutou muito, vibrou muito pra que eu chegasse até aqui. Mais uma vez, fiquei pensando muito em tudo, ponderando...
A primeira aula do Internacional também foi um tanto decepcionante. Bem técnica, sem perspectiva de projetar um edifício e sobre sustentabilidade (no sentido da técnica, não social). Não gostei muito não. Mas aí, comecei a pensar, a refletir e talvez eu tenha encontrado um caminho que eu goste mais. Pensando na otimização dos espaços (e que o professor chama de otmização do consumo de energia), pensei em usar a linha do trem como eixo para o meu projeto. Pode ajudar ate no meu TFG em Santo André! =)
Bom, ainda não sei também se isso condiz muito c a realidade daqui, vamos ver!

Den Haag:
Bem, essa foi a minha primeira viagem aqui na Holanda. O dia estava lindo, um sol quente, em torno dos 30 graus. Pegamos nossas bikes (marina, bruno, ebai e eu) fomos ate a estação de trem, compramos tickets pra gente e outros pras bikes. Nossas bikes nos acompanharam nessa incrível viagem. Sem elas, jamais teríamos conseguido chegar até a praia. Foram uns 20/30 minutos pedalando no sol. O caminho era maravilhoso. A cidade é incrível, em escala, gabarito, beleza, arquitetura. Tem bondinho, tem rio, tem plano, tem tijolinho. Tem muito de Holanda nisso tudo.
A praia, bom, eu fico com qualquer uma brazuca. Den Haag é meio que o Guarujá. Toda a orla é tomada por prédios esquisitos de um lado da rua e por um grande edifício horizontal cheia de restaurantes (que vão de mc donalds a algo mais requintado) do outro. Esse grande edifício horizontal faz a transferência entre a cota da rua e a cota da praia. Isso é interessante.
Agora o mais esquisito mesmo é que tudo na praia parecia artificial. Havia um píer que desenhava a paisagem. Quando chegamos perto, percebemos que, na verdade, eram grandes blocos cúbicos de pedra. Milimetricamente colocados em diferentes posições fazendo um certo jogo, uma certa brincadeira. Particularmente, achei aquilo bem zuado.
Ficamos umas 2 horas na praia e resolvemos voltar a cidade pra comer e passear. Rodamos pela cidade, tentamos entrar no museu do Escher, mas chegamos as 16:50 hs e o museu fechava as 17:00. Ficamos na praça, tomamos sorvete...ô cidadezinha boa! Claro que tem uns edifícios novos que são bem de mercado. Mas o clima da cidade era delicioso!
Umas 18:00, 19:00 hs, voltamos à praia. Como aqui é verão, o sol fica até umas 20:30,21:00 hs. Vimos o sol se por na praia e fomos pro centro ver o túnel de conexão entre a cota da rua e a estação do bondinho projetado pelo Koolhaas. FASCINANTE! Ficamos um bom tempo analisando, tirando fotos. Nesse momento eu pensei que td tava valendo a pena. Não queria voltar pra casa no Brasil. Não queria voltar pra casa na Holanda. Queria pegar o próximo trem pra Londres, pra Paris, pra Roma! Queria ir onde tem arquitetura e dela fazer parte. No fim, voltamos pra casa cansados, mas felizes. Eu, com uma pontinha de tristeza em tomar contato, denovo, com a realidade.



Liége:
Na quinta-feira, 4 de setembro, encontrei o Hans na facul. Lá estava o crazy Dutch projetando em SP, no minhocão! Foi bom rever os desenhos da cidade cheia de complexos e defeitos. Da cidade dos espetos que, mais do que nunca, estou amando e de uma forma estranha, meio romantizada, meio real. Bom, no meio da conversa, o Hans convidou a mim e os demais brasileiros a um bate volta até Liége, na Bélgica, no sábado 6 de setembro. Ia rolar um “city parade”. Uma festa ao ar livre organizada pela prefeitura. Achei que seria legal pra conhecer uma outra cidade num outro país. Topamos!
Fomos e no caminho não conseguíamos parar de rir. O Hans é muito gente boa e engraçado. O crazy dutch apaixonado pelo Brasil! Chegamos em Liege e a cidade é meio caótica e ao mesmo tempo fantástica! Tem ar meio decadente, histórico. Claramente, foi uma cidade cuja importância era maior no passado. Ficou um tempo abandonada e que agora esta voltando a receber investimentos. Foi interessantíssimo. Comemos chocolate belga (hummmm), um saduíche baratinho e delicioso e fomos para o city parade.
Havia uma quantidade enorme de gente. Uns 15 caminhões com som e gente em cima (tipo um carro alegórico ou trio elétrico). Todos com um som bem eletrônico. Não é mto o meu tipo de som, nem do bruno ou da marina, mas acabou sendo divertido! Com certeza, foi melhor do que passar o dia em Eindhoven. Eindhoven é uma cidade relativamente nova, ainda sem mta alma. A noite aqui se concentra nos “coffee shops” ou numas baladinhas cujo o espírito eu não entendo. Umas músicas ruins, bem breguinhas, c minas em cima da mesa cantando! É engraçado, mas não da pra fazer isso todo fds!

Por enquanto vou ficando por aqui. Desculpe se tomei muito do seu tempo. Havia muita coisa pra contar. Vou tentar viver ainda mais intensamente e escrever com mais freqüência. Esse texto foi uma junção de fatos dos últimos 15/20 dias. Saudades da minha família, saudades da Re, da Pri, do pessoal da facul, da Lizete.
Saudades sim...mas estou como Piaf:
No Non, Je Ne Regrette Rien...
http://www.youtube.com/watch?v=CqTLqRFKjAU











5 comentários:

Papo de Menina! disse...

Sim, eu li tudo!
Rs*
Senti vontade de rir, de chorar, senti medo por você, depois me encorajei com sua vontade de viver isso a qualquer custo.
Você é um guerreiro, lutador e escreve muuuito!
Lembra quando falei que era bom ler os posts da Mariel, pois bem, os seus são ótimos!

Sinto muito a sua falta.
(nos momentos ruins e principalmente nos bons! Ir pra casa da Pri é muito triste sem vc!)

Fica com Deus, guenta firme meu querido!

Te amo.

Flá Moreira disse...

Ahh Feee!! O pai falou q escreveu quase um livro p vc aqui no bvlog, mas n conseguiu postar!

Vou ver se o encorajo a escrever td de novo! hahaha

Te amoooooooooo!!!! Cuide-se e não pára de escrever por favooooooor!!! Eu "se divirto" hahaha

Ps: Dá uma olhadinha no meu fotolog: http://www.fotolog.com/_f_l_a_/24812746

Bjoooooos

Lica disse...

Ufa!

Adorei......me faz lembrar um pouco da Alemanha. Esses lugares não são perfeitos pq não são nossa casa, né. Por isso a gente releva uma sujeira aqui e uma grosseria ali.

Espero q vc aproveite ao máximo!

Te adoro demais, Fe!!

Bjon ;)

mmeira disse...

ai sao tantas coisas pra comentar!!
que post enooooooooooorme!!! da proxima vez publica por partes porque eu quero comentar tudo!! hahaha

meu, que engraçado a cena de vcs encontrando o indiano!
e eu nao consigo imaginar q vc conseguiu entrar em deprê no comecinho!!! vontade de te dar umas palmadas!! rs

mas agora está tudo bem, né? releva, releva, como disse a lica. =)

babuína disse...

Meu lindo! Desculpa a demora pra comentar, mas a gripe derrubou até a internet! Eu tô rindo muito com a situação, mas sei bem que não é fácil! Os lugares são lindos mesmo e você vai descobrir vida neles aos poucos. Já estava com saudade de te "ler". Eu tenho muito orgulho de ser sua amiga, de participar disso tudo. Como diz a Rê, os dias por aqui sem vc são bem vazios, mas daqui a pouco serão cheios de histórias e risadas. Adorei ouvir a sua voz, me trouxe vida de novo! Te amo muito e sinto muito a sua falta! Mas quero que você fique muito bem por aí, que se divirta, dê risada, conheça, conheça, conheça!
Se cuida, meu lindo! Saudade sempre!
Bjo
Pri